
Criado por Lucas Luís em segunda, 19 maio 2025
Um dia que começou às 2h30 da manhã para ver o Rally de Portugal
Este artigo é um testemunho
As expectativas eram altas para ver o Rally de Portugal em Pai das Donas - Arganil. Eu (Lucas), o Gonçalo, o Tiago e o Luís estávamos entusiasmados como miúdos antes de uma viagem de finalistas, porque nenhum de nós sabia exatamente o que esperar do Rally de Portugal. Eu e o Gonçalo íamos pela primeira vez a uma prova de desporto motorizado, enquanto o Tiago e o Luís já tinham passado pela experiência de Fronteira... tinham uma ideia do que podia ser, mas nenhuma garantia.
Fomos aconselhados por amigos e, acima de tudo, pelo nosso Diretor de Marketing, a rumar até Pai das Donas. Disseram-nos que era uma das melhores zonas para ver a passagem dos carros e, de facto, não podiam ter sido mais certeiros. Escolhemos um local onde conseguíamos ver os carros a passar continuamente durante cerca de dois minutos: primeiro ao longe, num vale incrível, e depois bem mais perto, numa sequência de curvas, cotovelos e terra a voar. Montámos a nossa “trouxa” mesmo ao lado da última curva da Zona de Espetáculo. A vista era um luxo.
Na noite anterior, preparámos tudo com cuidado. Rissóis, croquetes, panados, batatas, água, cerveja, muito gelo nas geleiras e roupa que não nos importássemos de sujar. Levámos também golas, chapéus, protetor solar, cadeiras e, claro, equipamento para registar alguns momentos - câmara, microfones e powerbanks. Queria captar cada detalhe da nossa estreia no Rally de Portugal, para partilhar na página da Benecar e mais tarde recordar.
Saímos de casa às 2h30 da manhã. O sono ainda nem se tinha instalado e já estávamos na estrada. A escuridão, o silêncio da serra e a adrenalina de quem está prestes a viver algo grande acompanharam-nos o caminho todo. A playlist? Uma dose de WRC Techno dos anos 2000! À chegada, por volta das 05h00 e pouco, o céu começou a clarear. O Rally já se sentia no ar.
Ao chegarmos perto da entrada da ZE, percebemos logo que não éramos os únicos a madrugar. Centenas de fãs já se dirigiam para o acesso, completamente equipados para o espírito de festa que se esperava dali a poucas horas. A GNR já não deixava subir mais com o carro, estava tudo lotado. Quando nos aproximámos mais, entendemos porquê: havia acampamentos montados há dias, verdadeiras caravanas improvisadas e estruturas que pareciam tiradas de um filme do Mad Max.
Fizemos a subida até à Zona de Espetáculo carregados: duas geleiras, quatro cadeiras, mochilas e bom humor. Dividimos o peso e as dores de ombros, mas compensou. Chegados lá acima, o Gonçalo ainda teve de recorrer à bomba da asma… nós às bombas frescas da geleira.
O convívio começou cedo. Ainda nem o sol tinha subido por completo e já havia pessoal a sair das tendas e outros a chegar. Começámos então a interagir com quem lá estava. Completos desconhecidos mas que, naquele dia, se tornavam amigos. Fomos conversando com alguns fãs do WRC e até levámos brindes da Benecar para oferecer. Criou-se uma dinâmica gira entre todos.
Por volta das 10h, a ansiedade começou a apertar. Já se ouviam os helicópteros, os carros de assistência, os primeiros motores ao longe. Confirmava-se: eles vinham aí! De repente, o chão tremeu e a poeira começou a subir. Durante mais de uma hora vimos os melhores pilotos do mundo a rasgarem o troço mesmo à nossa frente. O Ogier, Tanak, Neuville, Rovanperä, o Fourmaux (que até teve um percalço mesmo ao nosso lado durante a tarde), passaram como flechas, deixando atrás de si uma nuvem de pó e adrenalina. Eu na verdade “não os vi passar”, por assim dizer, que não percebo nada de Rally nem tão pouco os conseguia identificar… só ao chegar a casa e ao descarregar as fotos é que percebi quem é que tinha passado à frente da minha objetiva.
Entre motosserras a berrar, palmas, gargalhadas e histórias partilhadas, houve tempo para tudo. Para viver intensamente, para fotografar, para brincar, para aproveitar cada curva como se fosse um golo no último minuto. Pai das Donas, para mim que não tinha experienciado nada do género, só posso comparar com a "Festa do Jamor", tal a animação e o convívio. A dada altura, perto da hora de almoço, já nos davam sandes de leitão, bifanas e até um lugar privilegiado num andaime montado como torre de vigia. O espírito de partilha ali é algo difícil de explicar, só mesmo estando presente é que se percebe.
Depois de encher a barriga, a moleza apoderou-se e foi um instante até adormecermos todos, tal o cansaço. O nosso despertador para a segunda passagem dos pilotos foi, nada mais, nada menos, que os helicópteros a regressarem à nossa ZE, como forma de "anúncio" do que estava a caminho: uma autêntica avalanche de carros de Rally, e, desta vez, com os helicópteros a passarem bem de perto para captar, aquela que me pareceu a mim, que não percebo nada disto, uma segunda passagem mais rápida e tecnicista que a da manhã, brindada com ainda mais espectadores e euforia. Foi perfeito para terminar esta experiência.
Viver o Rally de Portugal em Pai das Donas foi mais do que ver carros a passar. Foi sentir o desporto no seu estado mais puro, foi perceber que ali todos somos iguais: queremos todos divertir-nos, conviver com desconhecidos, levar com pó na cara e, por último, mas não menos importante, ver os melhores do mundo a rasgar à nossa frente. Foi, acima de tudo, uma festa. Uma daquelas que queremos repetir. Porque no meio da poeira, dos motores e da terra batida… encontrámos algo especial em Arganil.