Fim dos motores de combustão pode afinal ser adiado

Fim dos motores de combustão pode afinal ser adiado

A discussão sobre o futuro dos motores de combustão interna voltou para o centro do palco europeu. Depois de meses de pressão por parte de fabricantes e vários Estados-Membros, a União Europeia admite agora rever o calendário que previa o fim da venda de novos carros a gasolina e gasóleo a partir de 2035. A mudança não é definitiva, mas representa um sinal claro de que a transição energética poderá tornar-se mais gradual do que o inicialmente previsto.

A decisão surge após uma pressão crescente de construtores como BMW, Mercedes, Volkswagen ou Stellantis, que alertaram para três problemas ainda por resolver: a infraestrutura de carregamento insuficiente, os preços elevados dos elétricos e o risco de perda de centenas de milhares de empregos num setor que sustenta mais de 13 milhões de trabalhadores na Europa.

Também governos como Alemanha e Itália defenderam abertamente uma flexibilização do plano, argumentando que o continente não pode descartar tecnologias que contribuam para a redução das emissões sem prejudicar a competitividade.

A carta do chanceler alemão Friedrich Merz à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, parece ter sido o momento decisivo. Poucos dias depois, Apostolos Tzitzikostas, comissário europeu para os Transportes, confirmou que Bruxelas está disposta a reavaliar o regulamento aprovado em 2023, desde que existam garantias de neutralidade carbónica.

 

O que poderá mudar

A proposta em análise não elimina o objetivo climático, mas abre portas à continuidade dos motores de combustão com uma condição essencial: só poderão ser homologados se utilizarem combustíveis renováveis e de baixas emissões.

Entre os combustíveis apontados destacam-se:

  • HVO100, um gasóleo totalmente derivado de óleos vegetais e gorduras animais, capaz de reduzir emissões até 90%;

  • Combustíveis sintéticos (e-fuels), como os produzidos pela Porsche no Chile a partir de água e CO₂ usando energia eólica, também com reduções estimadas na ordem dos 90%.

A indústria vê estas alternativas como uma forma de ganhar tempo até que a infraestrutura elétrica e os custos dos veículos zero emissões evoluam para níveis mais acessíveis aos consumidores.

 

O pacote automóvel que pode redefinir 2035

A Comissão Europeia está a preparar um novo pacote de apoio ao setor automóvel, que incluirá revisão das metas de CO₂, possíveis ajustes na transição energética e medidas para garantir competitividade. A apresentação, inicialmente prevista para 10 de dezembro, foi adiada algumas semanas. Segundo Tzitzikostas, mais vale demorar e garantir decisões “permanentes e claras” do que avançar com um plano que gere ainda mais incerteza.

O objetivo é encontrar um ponto de equilíbrio: manter a ambição climática sem descurar o impacto económico, social e laboral de uma mudança tão profunda.

 

E o que significa isto para os condutores?

Para milhões de automobilistas europeus, a possibilidade de prolongar a vida dos motores de combustão traz algum alívio, sobretudo para quem não tem condições para carregar um elétrico em casa. Ainda assim, a realidade mantém-se complexa:

  • A infraestrutura de carregamento continua a crescer de forma desigual.

  • Os preços dos elétricos permanecem elevados.

  • Os combustíveis sintéticos são ainda altamente ineficientes e caros.

  • Não existe, para já, produção suficiente para responder ao mercado de massas.

Enquanto isto, os elétricos continuam a ganhar terreno: já representam 18,3% das vendas nos primeiros dez meses do ano, embora continuem atrás dos híbridos, que lideram com 34,7%.

 

O debate está longe de acabar

A possível revisão da meta de 2035 não fecha a porta à eletrificação; apenas reconhece que o caminho poderá ter de ser mais flexível. Alguns fabricantes, como Volvo e Polestar, defendem que o plano inicial deve manter-se, enquanto outros aplaudem a abertura tecnológica.

O que é certo é que a Europa está num momento decisivo. E, até que Bruxelas apresente regras definitivas, a indústria automóvel continuará a navegar num cenário de mudança constante, onde combustão, elétricos e combustíveis renováveis irão partilhar o protagonismo.

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